domingo, 14 de outubro de 2007

Mais nada. assino por baixo

TARADOS & MANÍACOS, por Alberto Gonçalves
Texto publicado no DN de 14/10/2007
"Não esperava que as minhas triviais considerações sobre "Che" Guevara, na semana passada, suscitassem tamanha fúria. Além de uma série de e-mails a proporem-me o tratamento que "El Comandante" aplicava aos adversários, Vítor Dias, uma sumidade do PCP, chamou-me no seu blogue "simpatizante de assassinos". Vindo do sr. Dias, o qualificativo não é um mero elogio: é a glória. Mesmo que o sr. Dias não especifique os "assassinos" com quem eu "simpatizo", imagino que se refira a George W. Bush, ocasionalmente aqui evocado sem a gosma insultuosa que a esquerda exige. Por acaso, nunca achei Bush exactamente "simpático": é só o líder democraticamente eleito de um país próspero, progressista e bastante mais livre que 99% das nações da Terra. Ou seja, tudo o que o sr. Dias detesta. Conforme se afere do seu brilhante currículo, o sr. Dias prefere a companhia dos que tomam o poder à força para iluminar, igualmente à força, as massas brutas. Lenine, Estaline, Pol Pot e Kim Il Sung são nomes que surgem de repente. Por azar, nos tempos que correm, tornou-se um bocadinho complicado elogiar tais vultos em público, sob pena de descrédito. As travessuras de Estaline, Mao ou até Fidel foram já demasiado divulgadas para que os seus fiéis pratiquem o respectivo culto com total à-vontade. Sobra-lhes o "Che". O "Che" apenas se distingue das figuras acima pela eventual rejeição da "institucionalidade" pós-revolucionária. Fidel, por exemplo, contentou-se com o poder e vem exercendo a repressão necessária à manutenção do poder. É plausível que Guevara, um perfeito psicopata, aborrecesse racionalismos do género e qualquer ordem que dificultasse o seu único desígnio: matar. Apesar disso, ou se calhar por isso, o carniceiro das t-shirts beneficia há décadas de uma imprensa compreensiva, que relativiza os seus inúmeros crimes e legitima a adoração em seu redor. Para a esquerda autêntica, incluindo para os comunistas "ortodoxos" que em 1967 divergiam do "Che" por razões "estratégicas", essa adoração constitui a catarse e o alívio que lhes resta. Hoje, é através do louvor do "Che" que manifestam sem risco a sua repulsa pelas sociedades abertas, normalmente dissimulada numa tolerância fingida e cansativa. Claro que, a julgar pela verborreia alusiva às comemorações (no meu caso literais) da morte do sujeito, as referências ao sorriso do "Che", ao olhar do "Che", ao romantismo do "Che", à juventude do "Che" e à ternura do "Che" também insinuam uma atracção sexual mal resolvida, mas em sonhos eróticos não me meto. Na cama, cada um escolhe as taras ou os tarados que entende."